quinta-feira, 14 de junho de 2012

MANIFESTO DA SEMANA DO GEÓGRAFO

AVALIAÇÃO DO PET E CONVITE PARA NOVAS ATIVIDADES 
(29/05 à 01/06/2012)

“Suplicamos expressamente: não aceites o que é de hábito como coisa natural, (...) nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar.” Bertold Brecht

        A frase de Brecht reflete bem as aspirações do PET-Geografia sobre a Semana do Geógrafo 2012, realizada também com a participação do DACG (Diretório Acadêmico do Curso de Geografia). O meio do ano chegara batido, sem que tivéssemos construído os espaços de reflexão coletiva e articulação no Curso de Geografia. Com isso, acabamos nos reduzindo às aulas rotineiras e o “diálogo” entre alunos e professores, como se tudo na universidade se resumisse à obtenção de nossos diplomas. Não deveríamos deixar que esse alheamento se naturalizasse. Queríamos alterar esta lógica, este era nosso objetivo. Juntando a isso uma inesperada, porém bem recebida notícia de greve docente, nos colocamos a repensar o caráter da Semana do Geógrafo. Chegamos a duvidar da capacidade de aglutinação do evento durante a paralisação das aulas, receando não ser possível concretizar nosso objetivo de reavivar os debates na Geografia com o devido alcance. Contudo, depois de realizada, constatamos que a integração da nossa Semana às atividades da greve docente e discente foi uma aposta vitoriosa.

        Contamos com a participação de 152 pessoas e com 16 pesquisas e experiências inscritas na sessão de Apresentação de Trabalhos (incluindo estudantes da FFP-UERJ). Ampliamos, mesmo num momento de greve, a abrangência do evento, que no ano passado contou com um público aproximado de 120 pessoas. Conseguimos mobilizar calouros, pós-graduandos, estudantes do final da graduação, de outros cursos e municípios (UERJ-FFP) e UFF/Santo Antonio de Pádua) para discutir questões urgentes e relevantes. Nosso primeira intenção era discutir o porquê da greve, nos conscientizando dos sérios problemas do ensino universitário público. A legitimação do movimento grevista da UFF é algo de extrema importância para a Semana do Geógrafo. No começo da tarde do dia 29/05, conseguimos debater a fundo a essência dos problemas que originaram a greve, com a ajuda do professor José Antônio (ADUFF) e do membro do comando de greve estudantil Miguel Pinho.



        Estando às vésperas da Rio+20, convidamos a professora Nazira Correa, da Faculdade de Economia da UFF, e o professor da Geografia Carlos Walter Porto-Gonçalves para, no final desta mesma tarde, incitarem um debate sobre a questão ambiental. Refletimos criticamente sobre a possibilidade de existência de um capitalismo sustentável, conjecturando sobre a contraditória atuação das ONGs ambientalistas e questionando a ideia equivocada de uma natureza separada do homem. Apontamos para a necessidade de outro projeto de “desenvolvimento sustentável”, representada hoje pela proposta da “Cúpula dos Povos”. Uma proposta que busque uma integração homem-natureza mais harmônica, apontando novos “horizontes de vida” à nossa sociedade.





        A necessidade de pensarmos sobre os caminhos que vem tomando a Geografia Crítica no Brasil, corrente geográfica que entendemos como a mais contestadora e inovadora, nos levou a discutir o tema, na noite do dia 30/05, com os professores Sergio Nunes (UFF) e Astrogildo de França (FFP-UERJ). Realizamos um debate animado e ao mesmo tempo profundo em termos de conteúdo. A diversidade dentro da Geografia Crítica revelou-se mais enriquecedora que conflitante, na visão dos competentes expositores e do público que participou vivamente das discussões, que se estenderam até às 21:30h.





        Na tarde do dia 31/05, a seção de apresentação de trabalhos foi aberta com o forte depoimento do professor Douglas Pimentel (UFF), que compartilhou conosco uma situação particular vivida na UERJ. Sua experiência na greve ocorrida nesta instituição nos alertou para capacidade de sabotagem de movimentos anti-greve e nos ajudou a entender ainda mais a legitimidade da luta grevista contra o sucateamento das universidades. Logo em seguida, iniciamos a sessão propriamente dita, dividindo a apresentações em dois blocos: o primeiro, caracterizado por experiências de vivência e de estudos sobre degradação ambiental; o segundo, aglutinando temas sobre manifestações culturais, geografia urbana e questões de gênero. Tendo em vista o elevado número de trabalhos inscritos, os dois blocos transcorreram simultaneamente em salas separadas, contribuindo positivamente para a troca de informações entre pesquisadores e interessados nas áreas mencionadas.




        Por fim, no último dia (01/06), realizamos uma discussão em homenagem a um dos geógrafos mais importantes da história brasileira, Aziz Ab’Saber, falecido no início deste ano. Deixando nosso convívio aos 87 anos de idade, Aziz nos legou toda uma vida de análises geográficas sobre nosso país e nosso continente, além de ter sido um exemplo de intelectual militante. Foi com a sensação de profundo agradecimento que realizamos a mesa, a fim de recordarmos e conhecermos melhor o geógrafo, o cientista interdisciplinar e o militante Aziz Ab’Saber. Seu legado nos foi apresentado pelos professores Flávio Nascimento (UFF) e Charlles da França (UERJ-FFP), que discorreram com competência e paixão sobre as reflexões acerca dos domínios morfoclimáticos e fitogeográficos do Brasil, bem como do esforço final de Aziz para impedir a execução das reformas criminosas no atual Código Florestal, como se espera de um pesquisador consciente e combativo.

         Concluindo, a “Semana do Geógrafo” deste ano foi planejada com o intuito de apontar caminhos que contribuam para a construção de um Curso de Geografia que promova a articulação de seu coletivo, esteja sintonizado com as questões sociais e tenha um caráter popular. Precisamos construir uma geografia voltada para quem realmente mantém nossa universidade, a população desfavorecida que constitui a maior parcela da sociedade. Este objetivo também se persegue através da politização e da organização de lutas essenciais pela educação nacional, como é o caso da presente greve. Enviamos um abraço fraterno a aqueles que participaram do evento e informamos que o diálogo iniciado nesta Semana não se esgotou, assim como o desejo de alimentar continuamente nossa expectativa de uma geografia em que possamos nos reconhecer tanto do ponto de vista político como profissional. Esperamos fortemente que todos se sintam instigados e compareçam à nossa próxima atividade do dia 28/06 (5ª-feira), às 14:00h, no Auditório Milton Santos. Será o primeiro CINEPET do ano, com a exibição do filme Revolução em Dagenham, seguido de um coffe break e um debate sobre situações de greve e questões de gênero. Mais detalhes abaixo:

Título original: Made in Dagenham (Reino Unido, 2010).
Diretor: Nigel Cole
O filme retrata a greve ocorrida em 1968 na fábrica da Ford situada em Dagenham, subúrbio da Grande Londres. Na ocasião, mulheres lutaram contra a discriminação sexual e por aumentos salariais, numa ação considerada hoje decisiva para a aprovação da Lei de Paridade Salarial pelo Parlamento Britânico, em 1970. Trabalhando em condições bastante precárias e tendo que conciliar trabalho com vida doméstica, as mulheres da fábrica perdem finalmente a paciência, quando foram classificadas como “não qualificadas”. Com humor, bom senso e coragem, Rita (Sally Hawkins) e suas companheiras viram-se contra os patrões, contra a comunidade local e, finalmente, contra o governo, utilizando como armas inteligência e a criatividade (no que se revelam mais talentosas que seus oponentes masculinos). Para Sally Hawkins, trata-se de um tributo à coragem das mulheres dispostas a correr riscos para obter seus direitos.

sábado, 5 de maio de 2012

2° Semana do Geógrafo UFF


       É chegado mais um ano e, por conseguinte, é chegado o 29 de maio (Dia do Geógrafo), o momento de nos homenagearmos e refletirmos criticamente sobre nossa condição de geógrafos. Infelizmente, também chegamos a este ano de 2012 com a perda de grandes seres humanos que enriqueceram imensamente o pensamento geográfico brasileiro e a luta por justiças sociais e ambientais como Aziz Ab'Sáber, Maurício Abreu e Ana Clara Torres. 
      É por este motivo e outros que o PET-Geografia UFF e o DACG decidiram dar continuidade à construção da Semana do Geógrafo, que irá ocorrer entre os dias 29/05 e 01/06. Dedicaremos essa data a estas exemplares trajetórias de vida, não apenas com um minuto de silêncio, mas com uma vida toda de inquietação, lutas, troca de saberes e solidariedade. Este evento acontecerá na forma de três mesas redondas (na terça, quarta e sexta-feira) e de apresentações de trabalhos (na quinta-feira, 31/05). As inscrições destes serão possíveis entre os dias 06/05 e 25/05 e a apresentação dos mesmos irá ocorrer das 14:00 às 20:00 h na sala 509. O tema dos trabalhos é livre e buscaremos agrupá-los pelas proximidades de assunto entre eles, para que haja uma ordem na apresentação com coerência temática. 
     Para se inscrever basta enviar seu resumo para o email do PET - petgeografiauff@gmail.com. Sendo necessário ele estar na fonte Times New Roman, tamanho 12, máximo de 6.000 caracteres (cerca de 2 páginas), podendo estar em anexo ou no corpo do email. O autor deverá informar seu nome completo, sua instituição, matrícula e se participa de algum grupo de pesquisa/estudo (e qual seria este). Contudo, avisamos de antemão que este será um espaço mais informal de troca entre saberes, com isso não podemos afirmar se haverá publicações ou contará para o currículo. 
    Em breve divulgaremos mais informações sobre os horários das mesas, seus temas e as pessoas que irão compô-las. Contamos com a ajuda de todos na divulgação do evento. 
    Grato, a organização.   

sábado, 27 de novembro de 2010

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E PRÁTICAS ESPACIAIS: O ORIENTE NO CINEMA HOLLYWOODIANO

LIMA, Larissa; SALES, Natalia
Universidade Federal Fluminense
snataliarj@yahoo.com.br, larissalima_uff@yahoo.com.br


Palavras – Chave: Representações, Práticas Espaciais, Cinema.

Introdução

Há tempos vêm sendo elaborada uma representação hegemônica do que denominamos Oriente. O processo de construção de tal representação relaciona-se com determinadas práticas sociais, neste caso, com o imperialismo europeu do século XIX e a criação de símbolos e estereótipos associados ao Oriente por parte do pensamento ocidental. Esses estereótipos foram sendo reproduzidos ao longo dos anos e foram influenciando na construção de um imaginário sobre o Oriente. O imaginário construído, por sua vez, influenciou e influencia na produção do espaço.
Como já dito, a construção de uma representação hegemônica do Oriente relaciona-se com a prática da colonização. As principais colônias européias do século XIX, principalmente da França e da Inglaterra, localizavam-se no chamado Oriente. Este, para os colonizadores, representava a imagem mais expressiva do Outro, a experiência do contraste. À medida que os europeus passaram a ter um maior contato com a “cultura do Oriente”, desencadeou-se um crescente interesse por parte de estudiosos, aventureiros e colonizadores por assuntos referentes a tudo o que dizia respeito a essa região.
Desta forma, no século XIX iniciou-se um processo de produção de imagens, escritos e discursos sobre o Oriente. Neste processo, a construção de uma representação hegemônica sobre a região foi se cristalizando. Estereótipos sobre os povos do Oriente foram sendo criados e reproduzidos até os dias atuais. A partir de novos acontecimentos, especialmente de ordem geopolítica, essas representações foram sendo modificadas ou reafirmadas.
Como ferramenta reprodutora desses estereótipos, o cinema tem um papel essencial. Na produção fílmica ocidental que se utiliza de imagens do Oriente prevalece o olhar do conquistador. Neste sentido, vê-se comumente o Oriente representado como um lugar místico e exótico, e seus habitantes, um povo primitivo, bárbaro e promíscuo, para citar alguns exemplos.

Objetivos

O presente trabalho pretende se pautar nas questões citadas para analisar as representações do Oriente no cinema ocidental, no caso hollywoodiano. Com base na análise de três filmes selecionados, de épocas e gêneros diferentes, buscaremos mostrar como o Oriente é representado no cinema de Hollywood e associar esta representação com as práticas espaciais, seja para entender a origem dos estereótipos expressos nestes filmes ou para relacionar a reprodução destes estereótipos e a produção do espaço, por meio de políticas territoriais.

Metodologia

Para tentar entender como o Oriente é representado no cinema hollywoodiano, selecionamos três filmes que representam de uma forma ou de outra o Oriente: Lawrence da Arábia (1962), Aladdin (1992) e Homem de Ferro (2008). Todos são produções hollywoodianas, sendo os dois primeiros considerados clássicos para os respectivos gêneros, aventura e animação. Marcando épocas diferentes, os filmes são considerados “grandes produções” pela quantidade de recursos levantados para a sua elaboração bem como pela quantia arrecadada em suas bilheterias.
Lawrence da Arábia, dirigido por David Lean, é baseado na autobiografia do militar inglês, T. E. Lawrence o qual durante a 1ª Guerra Mundial, desiste de sua função de cartógrafo no Cairo para seguir numa missão sugerida pelo Departamento Árabe, do Ministério Britânico para Assuntos Estrangeiros. No contato com os árabes, Lawrence, interpretado por Peter O’toole, desenvolve uma aliança política, e, ao mesmo tempo, uma relação de afeto com os mesmos, alimentada pelo seu fascínio pelo deserto e pelos beduínos. O inglês incentiva a idéia de uma Revolta Árabe contra os turcos, que insultaria na união das tribos árabes e teria como objetivo o controle da região pelos próprios árabes.
Aladdin é um clássico de animação dos estúdios Disney com direção e produção de Ron Clements e John Musker. O filme narra a história de um jovem pobre, morador do reino de Agrabah, que vê seu destino modificado após se deparar com o gênio da lâmpada mágica, ganhando o direito de realizar três desejos. Vivendo de pequenos furtos, o personagem sonhava viver no palácio do sultão. Logo, Aladdin guia seus desejos em torno da vontade de se tornar príncipe e poder se casar com a princesa de Agrabah, Jasmine. Ao fim da história, mesmo depois de descobrir a verdadeira identidade de Aladdin, o sultão aprova o casamento do primeiro com sua filha, Jasmine. O herói se casa sem antes utilizar seu último desejo para libertar o gênio.
Já o Homem de Ferro baseia-se na história em quadrinhos criada por Stan Lee em 1963. Com direção de Jon Favreau, o filme narra a história do empresário Tony Stark, interpretado por Robert Downey Jr., que é seqüestrado por terroristas e obrigado a construir uma arma devastadora. Em seu cativeiro, o personagem constrói uma armadura e passa a utilizá-la para combater seus inimigos, transformando-se no “Homem de Ferro”.

Resultados Preliminares

Com base na análise dos filmes selecionados pôde se constatar a presença de uma série de estereótipos associados ao Oriente. A partir da caracterização destes estereótipos, foi possível ter uma noção do olhar predominante que os ocidentais têm do Oriente e de seus povos. Também foi possível relacionar uma série de implicações no espaço geradas a partir da reprodução deste olhar.
Em Lawrence da Arábia, apesar das tentativas de compreensão do povo árabe, prevalece no filme uma visão etnocêntrica. Um aspecto desta visão está no fato de os personagens árabes serem vistos como pertencentes a um mesmo grupo, como uma cultura homogênea. As diferenciações internas (as diferentes tribos) são citadas em várias cenas do filme, mas para o espectador prevalece o olhar de um inglês, no caso do Lawrence, que enxerga os árabes não como haritas, howeitats, ageylis, ruallas etc, mas apenas como árabes.
Outro fator que exemplifica o etnocentrismo citado é o papel que o personagem de Lawrence desempenha no filme. Na figura de Lawrence, concentram-se a idéia de modernidade, ousadia, inteligência, coragem, piedade e bondade. Lawrence é o herói da história, aquele que une as tribos árabes (retratadas como coadjuvantes) para um ideal nobre. Frente aos personagens árabes, em vários momentos, ele é aquele que detém a razão pois, mesmo contrariando os conselhos dos primeiros, está sempre correto. Em diversas cenas os árabes aparecem como atrasados, ignorantes e ingênuos.
O exótico e o místico estão presentes no filme na representação das paisagens do deserto. Este último como um lugar esplêndido, fantástico e misterioso. Esta representação está relacionada ao fascínio que Lawrence possuía pelo deserto.
É importante ressaltar que os estereótipos aparecem de maneira mais sutil neste filme em comparação aos outros dois (Aladdin e Homem de Ferro) e que os orientais, apesar de tudo, estão mais humanizados. Alguns personagens árabes aparecem em algumas cenas como inteligentes, sensíveis e até mesmo conscientes de sua própria estereotipização. Isso se observa nas palavras do personagem Xarife Ali na cena em que Lawrence decide voltar para o Cairo para se encontrar com os ingleses: “No Cairo, você vai tirar essas roupas engraçadas, vestir calças e falar de nossos hábitos estranhos, bárbaros. Aí acreditarão em você”.
Aladdin, até por se tratar de uma animação voltada para o público infantil, não demonstra ter esta preocupação. O filme se utiliza de quase todos os estereótipos já construídos acerca do povo árabe, tais como os que remetem à questão da violência, da barbárie, da sensualidade, do exotismo, do misticismo, entre outros.
No filme, Agrabah, na Arábia, é tida como uma cidade de “mistério e encantamento”, como nas palavras de um personagem na primeira fala do filme. O filme corrobora essa imagem, na medida em que remete seguidamente à questão do misticismo e da magia, dando destaque ao papel do deserto. No filme, as areias do deserto se transformam em um tigre cuja garganta abriga uma Caverna dos Tesouros. Além disso, percebe-se também outras referências deste tipo no cotidiano dos personagens: tapetes voadores, cobras hipnotizantes, além da figura do próprio gênio.
Mas os estereótipos que mais chamam atenção são os que remetem à questão da sensualidade e da violência. Sobre o primeiro, o exemplo mais significativo seria a personagem Jasmine. A princesa usa uma roupa semelhante às roupas das odaliscas que aparecem no início do filme (outra referência à questão da sexualidade), mesmo se tratando de uma princesa. É possível notar que a roupa da princesa desta história, que se passa no Oriente, é bem diferente da roupa das princesas européias das quais a Disney já retratou em seus filmes, concebidas de uma forma muito mais recatada. É nítida a associação com a sensualidade por se tratar de uma princesa árabe.
Já a questão da violência e da barbárie está contida em muitos elementos do filme. Há cenas que fazem referência a lei mulçumana a qual estabelece o corte das mãos como punição para o roubo. Mas a referência mais explícita estaria contida na versão original da primeira estrofe da música de abertura do filme, Arabian Nights. Os últimos versos da estrofe dizem: “Where they cut off your ear/ If they don’t like your face/ It’s barbaric, but hey, it’s home”(Onde cortam sua orelha/ Se não gostarem do seu rosto/É bárbaro, mas hey, é o nosso lar”).
O Homem de Ferro é o filme mais recente em comparação aos outros (2008) e, ao mesmo tempo, é o mais direto em seu discurso. Como já dito, o filme baseia-se na história de um personagem de quadrinhos criado por Stan Lee em 1963, no contexto da Guerra do Vietnã. Na história original, Tony Stark, um reconhecido empresário da indústria bélica, aproveita o momento de instabilidade para melhorar os armamentos do exército norte-americano e, consequentemente, aumentar sua fortuna. Em visita ao Vietnã, Tony sofre um acidente com uma bomba e alguns vietcongues o capturam e o levam até seu líder, Wong Chu. Este o prende e o força a preparar uma arma poderosa, mas espertamente, ele inventa uma espécie de armadura, transformando-se no Homem de Ferro e derrotando as tropas inimigas.
Percebe-se que na adaptação para o cinema há uma mudança na história. Os vilões passam a ser afegãos e não mais vietcongues. Com a mudança de contexto histórico e dos interesses militares norte-americanos, a história passa a abordar a questão do terrorismo. Assim, os personagens orientais, em sua maioria, são retratados como terroristas, cujos objetivos envolvem a conquista da região a partir da posse de armamentos modernos.
Quando os afegãos não são retratados como assassinos/cruéis, aparecem como vítimas salvas pelo herói norte-americano. É bem claro o modelo de herói que se pretende ter como referência neste filme; um herói patriota, que defende os interesses econômicos e militares da maior potência mundial. Sendo o Homem de Ferro a personificação da “América”, tenta-se reforçar os EUA como imbatíveis, poderosos, entre outras características.
É interessante salientar que o longa utiliza um estereótipo dos povos orientais que não contém nos outros filmes: o do “árabe terrorista” ou, neste caso, do “mulçumano terrorista” - pelo fato da ação se desenrolar no Afeganistão -, havendo vinculação a um acontecimento marcante do início do século XXI : os atentados de 11 de Setembro.
Portanto, esta representação não está presente nos outros dois filmes, pois datam das décadas de 1960 e 1990, respectivamente. Neste caso, podemos fazer uma associação bem direta entre as práticas espaciais e as representações. Embora o terrorismo esteja associado à questão da violência, a difusão da associação entre este ato de violência específico e o povo árabe e mulçumano é recente.
O filme também constitui um ótimo exemplo para se analisar a questão oposta: a das influências das representações sociais nas práticas espaciais, ou seja, na produção do espaço. O filme legitima o envolvimento dos Estados Unidos na guerra contra o Afeganistão através da utilização da imagem de um herói americano lutando contra os inimigos afegãos. Com a impregnação dessa associação no imaginário das pessoas e com a reprodução desses estereótipos, o apoio à presença militar dos Estados Unidos no território afegão é, certamente, maior.

Referências

BARBOSA, Jorge Luiz. Geografia e cinema: em busca de aproximações e do inesperado. In CARLOS, Ana Fani A. (org.) A geografia em sala de aula. São Paulo: Contexto, 1999, p.109-133.

BARBOSA, Jorge Luiz. A arte de representar como reconhecimento do mundo: O espaço geográfico, o cinema e o imaginário social in: GEOgraphia – Ano. II – Nº 3 – 2000.

SAID, Edward. Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente. Rio de Janeiro: Cia de Letras, 2001.

LOBO, Júlio. Parábola de Caim redentor (Islamismo, eurocentrismo e manipulação de temporalidades na filme inglês Com as horas contadas). In Revista Audiovisual – Ano I -Nº1-2003.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Seminário - Dinâmicas do Espaço Urbano

Com o evento da Agenda Acadêmica, que prevê a participação do PET, o núcleo Dinâmicas do Espaço Urbano convida os demais grupos e interessados que desenvolvem pesquisas ou trabalhos relacionados à temática urbana para participar de seu seminário, tendo o intuito de discutir e compartilhar experiências pertinentes.

O evento contará com duas mesas redondas e um espaço para a apresentação e publicação de trabalhos. Ocorrerá nos dias 09/11 e 11/11, de maneira integrada à programação da Agenda Acadêmica da UFF, com atividades de manhã e à tarde.

Para a apresentação e publicação de trabalhos:
1. Resumo de até uma (01) página a ser enviado até o dia 18.10.10 para o e-mail seminariodeu@gmail.com; deverá constar o nome do autor e do trabalho no nome do arquivo e discriminado no assunto do email que se trata o resumo.
2. O trabalho completo deverá possuir até quinze (15) páginas a ser enviado em anexo até o dia 31.10.10 para o e-mail seminariodeu@gmail.com;
3. Normas para o envio de resumo e trabalho: fonte Times New Roman, tamanho 12, entre linhas 1,5 linha, máximo de 15 páginas. Margem superior e inferior 2,5cm, direita e esquerda 3,0cm. Deverá conter: introdução, Objetivos, Metodologias e bibliografia segundo a ABNT. Nome dos autores no início da página e a direita, linha abaixo a indicação complementares: instituição, e-mail. Título centralizado. Cada capítulo, em caixa alta, seguido de um espaço.
4. A publicação dos trabalhos será feita em CD-ROM e disponibilizados no blog do PET (petgeografiauff.blogspot.com).

Programação do DEU na Agenda Acadêmica
Dia 09/11 (terça-feira)
14:00h - Espaço de apresentação de trabalhos
Local: Sala 509 do Instituto de Geociências – Campus da Praia Vermelha (UFF)
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Dia 11/11 (quinta-feira)
9:30h - Região Metropolitana do Rio de Janeiro: velhas e novas centralidades
- Luciana Corrêa do Lago (IPPUR-UFRJ)
- Manoel Ricardo Simões (IFRJ)
- Nelson Nóbrega Fernandes (Geografia UFF)
Local: Auditório do Chalet – Escola de Arquitetura e Urbanismo – Campus da Praia Vermelha (UFF)

14:00h - Renovação urbana e segregação socioespacial
- Julieta Nunes (IPPUR-UFRJ)
- Alvaro Ferreira (Geografia PUC-Rio)
- Catia Antonia da Silva (Geografia UERJ - São Gonçalo)
Local: Auditório do Chalet – Escola de Arquitetura e Urbanismo – Campus da Praia Vermelha (UFF)

18:00h - Espaço de apresentação de trabalhos
Local: Auditório do Chalet – Escola de Arquitetura e Urbanismo – Campus da Praia Vermelha (UFF)

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Cinema e Geografia: uma visão crítica das representações espaciais - 3º Dia

Nesta quinta-feira (30/09) ocorreu o terceiro e último dia do evento Cinema e Geografia. Com a exibição do documentário O Olhar Estrangeiro, foi posta em pauta a questão dos estereótipos e clichês reproduzidos pelos filmes estrangeiros ao retratar o Brasil. Como convidado, esteve presente o Prof. Jorge Luiz Barbosa, membro do corpo docente da UFF e especialista nos temas paisagem, espaço, cidade e cultura.

O Professor Barbosa abriu uma discussão sobre vários temas relativos ao assunto abordado no filme: a identidade brasileira; as razões que causam os clichês e estereótipos; e o objetivo comercial dos filmes estrangeiros, sobretudo os hollywoodianos.

O Prof. Sérgio Nunes também conversou com o público, levantando questões de caráter acadêmico e relacionando o assunto debatido com a geografia.


À exemplo dos dias anteriores, o público se manifestou em vários momentos, fazendo perguntas e comentários que culminaram num debate de mais de uma hora.

Agradecemos à Videoteca do Instituto de Geociências por todo o apoio e suporte na organização do evento e a todos que compareceram e participaram dos debates. Com o sucesso do Cinema e Geografia, podemos esperar outros eventos de mesmo porte para um futuro próximo. Aguardem novidades!

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Cinema e Geografia: uma visão crítica das representações espaciais - 2º Dia

Nesta quarta (29/09), foi realizada a exibição do segundo filme do evento, Coisas belas e sujas, que trata da questão dos imigrantes ilegais. Para o debate, convidamos o Prof. Helion Póvoa Neto, da UFRJ, especialista em estudos sobre imigração.

O Prof. Helion Póvoa Neto é coordenador do NIEM - Núcleo Interdisciplinar de Estudos Migratórios, sediado no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR-UFRJ)


O público levantou várias questões sobre os imigrantes, como suas condições de vida, seu sentimento nacionalista e a política por trás das leis de imigração.


O Prof. Helion respondeu perguntas e conversou informalmente com o público, dando ênfase à questão da identidade nacional dos imigrantes. À esquerda, de pé, o Prof. Sérgio Nunes.


Nesta quinta-feira (30/09) ocorrerá o terceiro e último dia do evento, no qual será exibido o documentário O Olhar Estrangeiro. Mais fotos em breve.

Cinema e Geografia: uma visão crítica das representações espaciais - 1º Dia

Nesta terça-feira (28/09) teve início o evento Cinema e Geografia, promovido pelo PET em parceria com a Videoteca do Instituto de Geociências. Neste primeiro dia, houve a exibição do filme Caroneiros, que trata da questão da identidade latino-americana. A cineasta Nina Tedesco foi convidada a realizar um debate após a exibição da película.


À direita, o Prof. Sérgio Nunes, tutor do PET, abre o evento. À esquerda, a convidada Nina Tedesco.


Nina conversou com o público sobre seu trabalho, e as várias questões envolvidas na produção cinematográfica latino-americana.


O público presente levantou várias questões sobre identidade, relações sociais e, obviamente, cinema.


Logo teremos fotos do segundo dia do evento, que será nesta quarta (29/09) com a exibição do filme Coisas belas e sujas.