quinta-feira, 14 de junho de 2012

MANIFESTO DA SEMANA DO GEÓGRAFO

AVALIAÇÃO DO PET E CONVITE PARA NOVAS ATIVIDADES 
(29/05 à 01/06/2012)

“Suplicamos expressamente: não aceites o que é de hábito como coisa natural, (...) nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar.” Bertold Brecht

        A frase de Brecht reflete bem as aspirações do PET-Geografia sobre a Semana do Geógrafo 2012, realizada também com a participação do DACG (Diretório Acadêmico do Curso de Geografia). O meio do ano chegara batido, sem que tivéssemos construído os espaços de reflexão coletiva e articulação no Curso de Geografia. Com isso, acabamos nos reduzindo às aulas rotineiras e o “diálogo” entre alunos e professores, como se tudo na universidade se resumisse à obtenção de nossos diplomas. Não deveríamos deixar que esse alheamento se naturalizasse. Queríamos alterar esta lógica, este era nosso objetivo. Juntando a isso uma inesperada, porém bem recebida notícia de greve docente, nos colocamos a repensar o caráter da Semana do Geógrafo. Chegamos a duvidar da capacidade de aglutinação do evento durante a paralisação das aulas, receando não ser possível concretizar nosso objetivo de reavivar os debates na Geografia com o devido alcance. Contudo, depois de realizada, constatamos que a integração da nossa Semana às atividades da greve docente e discente foi uma aposta vitoriosa.

        Contamos com a participação de 152 pessoas e com 16 pesquisas e experiências inscritas na sessão de Apresentação de Trabalhos (incluindo estudantes da FFP-UERJ). Ampliamos, mesmo num momento de greve, a abrangência do evento, que no ano passado contou com um público aproximado de 120 pessoas. Conseguimos mobilizar calouros, pós-graduandos, estudantes do final da graduação, de outros cursos e municípios (UERJ-FFP) e UFF/Santo Antonio de Pádua) para discutir questões urgentes e relevantes. Nosso primeira intenção era discutir o porquê da greve, nos conscientizando dos sérios problemas do ensino universitário público. A legitimação do movimento grevista da UFF é algo de extrema importância para a Semana do Geógrafo. No começo da tarde do dia 29/05, conseguimos debater a fundo a essência dos problemas que originaram a greve, com a ajuda do professor José Antônio (ADUFF) e do membro do comando de greve estudantil Miguel Pinho.



        Estando às vésperas da Rio+20, convidamos a professora Nazira Correa, da Faculdade de Economia da UFF, e o professor da Geografia Carlos Walter Porto-Gonçalves para, no final desta mesma tarde, incitarem um debate sobre a questão ambiental. Refletimos criticamente sobre a possibilidade de existência de um capitalismo sustentável, conjecturando sobre a contraditória atuação das ONGs ambientalistas e questionando a ideia equivocada de uma natureza separada do homem. Apontamos para a necessidade de outro projeto de “desenvolvimento sustentável”, representada hoje pela proposta da “Cúpula dos Povos”. Uma proposta que busque uma integração homem-natureza mais harmônica, apontando novos “horizontes de vida” à nossa sociedade.





        A necessidade de pensarmos sobre os caminhos que vem tomando a Geografia Crítica no Brasil, corrente geográfica que entendemos como a mais contestadora e inovadora, nos levou a discutir o tema, na noite do dia 30/05, com os professores Sergio Nunes (UFF) e Astrogildo de França (FFP-UERJ). Realizamos um debate animado e ao mesmo tempo profundo em termos de conteúdo. A diversidade dentro da Geografia Crítica revelou-se mais enriquecedora que conflitante, na visão dos competentes expositores e do público que participou vivamente das discussões, que se estenderam até às 21:30h.





        Na tarde do dia 31/05, a seção de apresentação de trabalhos foi aberta com o forte depoimento do professor Douglas Pimentel (UFF), que compartilhou conosco uma situação particular vivida na UERJ. Sua experiência na greve ocorrida nesta instituição nos alertou para capacidade de sabotagem de movimentos anti-greve e nos ajudou a entender ainda mais a legitimidade da luta grevista contra o sucateamento das universidades. Logo em seguida, iniciamos a sessão propriamente dita, dividindo a apresentações em dois blocos: o primeiro, caracterizado por experiências de vivência e de estudos sobre degradação ambiental; o segundo, aglutinando temas sobre manifestações culturais, geografia urbana e questões de gênero. Tendo em vista o elevado número de trabalhos inscritos, os dois blocos transcorreram simultaneamente em salas separadas, contribuindo positivamente para a troca de informações entre pesquisadores e interessados nas áreas mencionadas.




        Por fim, no último dia (01/06), realizamos uma discussão em homenagem a um dos geógrafos mais importantes da história brasileira, Aziz Ab’Saber, falecido no início deste ano. Deixando nosso convívio aos 87 anos de idade, Aziz nos legou toda uma vida de análises geográficas sobre nosso país e nosso continente, além de ter sido um exemplo de intelectual militante. Foi com a sensação de profundo agradecimento que realizamos a mesa, a fim de recordarmos e conhecermos melhor o geógrafo, o cientista interdisciplinar e o militante Aziz Ab’Saber. Seu legado nos foi apresentado pelos professores Flávio Nascimento (UFF) e Charlles da França (UERJ-FFP), que discorreram com competência e paixão sobre as reflexões acerca dos domínios morfoclimáticos e fitogeográficos do Brasil, bem como do esforço final de Aziz para impedir a execução das reformas criminosas no atual Código Florestal, como se espera de um pesquisador consciente e combativo.

         Concluindo, a “Semana do Geógrafo” deste ano foi planejada com o intuito de apontar caminhos que contribuam para a construção de um Curso de Geografia que promova a articulação de seu coletivo, esteja sintonizado com as questões sociais e tenha um caráter popular. Precisamos construir uma geografia voltada para quem realmente mantém nossa universidade, a população desfavorecida que constitui a maior parcela da sociedade. Este objetivo também se persegue através da politização e da organização de lutas essenciais pela educação nacional, como é o caso da presente greve. Enviamos um abraço fraterno a aqueles que participaram do evento e informamos que o diálogo iniciado nesta Semana não se esgotou, assim como o desejo de alimentar continuamente nossa expectativa de uma geografia em que possamos nos reconhecer tanto do ponto de vista político como profissional. Esperamos fortemente que todos se sintam instigados e compareçam à nossa próxima atividade do dia 28/06 (5ª-feira), às 14:00h, no Auditório Milton Santos. Será o primeiro CINEPET do ano, com a exibição do filme Revolução em Dagenham, seguido de um coffe break e um debate sobre situações de greve e questões de gênero. Mais detalhes abaixo:

Título original: Made in Dagenham (Reino Unido, 2010).
Diretor: Nigel Cole
O filme retrata a greve ocorrida em 1968 na fábrica da Ford situada em Dagenham, subúrbio da Grande Londres. Na ocasião, mulheres lutaram contra a discriminação sexual e por aumentos salariais, numa ação considerada hoje decisiva para a aprovação da Lei de Paridade Salarial pelo Parlamento Britânico, em 1970. Trabalhando em condições bastante precárias e tendo que conciliar trabalho com vida doméstica, as mulheres da fábrica perdem finalmente a paciência, quando foram classificadas como “não qualificadas”. Com humor, bom senso e coragem, Rita (Sally Hawkins) e suas companheiras viram-se contra os patrões, contra a comunidade local e, finalmente, contra o governo, utilizando como armas inteligência e a criatividade (no que se revelam mais talentosas que seus oponentes masculinos). Para Sally Hawkins, trata-se de um tributo à coragem das mulheres dispostas a correr riscos para obter seus direitos.

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